Dilma e Eduardo protagonizam torneio de sapos

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Ser político, como se sabe, é engolir sapos sem ter indigestão. Adversários cordiais, Dilma Rousseff e Eduardo Campos protagonizaram nesta segunda-feira um intercâmbio de batráquios –um mais indigesto do que o outro. Deu-se na cidade pernambucana de Serra Talhada, onde a dupla converteu a inauguração do trecho de uma adutora em teatro pré-eleitoral.

 

Coube ao governador pernambucano dirigir-se à plateia em primeiro lugar. A Alturas tantas, insinuou que Dilma deve algo ao PSB. “O nosso conjunto político não tem faltado ao Brasil e nem tem faltado apoio político ao governo de vossa excelência.” Com o sapo atravessado na traquéia, a visitante valorizou as parcerias, mas pediu parceiros confiáveis.

 

Dilma disse que o Brasil é complexo e realçou a importância das coalizões partidárias. “Nenhuma força política sozinha é capaz de dirigir um país dessa complexidade. Precisamos de parceiros, precisamos que esses parceiros sejam comprometidos com esse caminho.”

 

Antes, sabendo-se observado de esguelha por Dilma e pelo PT, Eduardo falou da necessidade de aceitar com naturalidade o contraditório. “Conheço o fel da discriminação dos que não reconhecem a a importância do debate, de chegarmos a consensos que possam embalar o futuro do país. Há a necessidade de respeitar as diferenças de somar aos contrários.”

 

Dilma parece pensar de outro modo. Para ela quem não está alinhado com o projeto de poder do PT tem pouco apreço pelo Brasil: “Nós todos aqui temos a tarefa de sustentar esse projeto de nação. E esse projeto tem duas fontes de força e energia. Primeiro é a força do povo. E segundo, é o imenso amor pelo Brasil que esses nossos parceiros têm demonstrado a esse projeto.”

 

A caminho de uma candidatura presidencial, Eduardo vem apimentando seu linguajar. Dias atrás, em encontro com empresários, disse que é possível “fazer muito mais” do que vem fazendo Dilma. Na sequência, declarou ter mais afinidade com o tucano José Serra, com que se reunira, do que com muitos dos atuais aliados.

 

No discurso de Serra Talhada, o morubixaba do PSB injetou uma menção elogiosa à estabilização da economia, obtida nos governos de Itamar Franco e do grão-tucano Fernando Henrique Cardoso. Eduardo falava de seca. De repente, afirmou que, mercê das conquistas pretéritas, foi possível a Lula distribuir renda. “Construímos fundamentos macroeconômicos importantes e depois, com Lula, vimos essas condições fazer o governo chegar aonde não chegava antes.” Disse isso um mês depois de Dilma ter declarado, na festa de aniversário do PT, que a legenda não herdara coisa nenhuma. “Nós fizemos”, enfatizara.

 

No discurso desta segunda, a presidente circunscreveu sua fala ao período histórico iniciado em 2003, sob Lula. Afirmou que, desde então, surgiu um “novo Pernambuco”. Reconheceu que Eduardo tem “grande papel nisso”. Mas deu a entender que o êxito do anfitrião é feito de verbas federais. “Todos esses investimentos que nós [Lula e Dilma] fizemos em Pernambuco, no Nordeste, e nossas estatais, chegamos a um volume extraordinário, R$ 60 bilhões.”

 

Como que antevendo o que seria dito depois que passasse adiante o microfone, Eduardo cuidara de recordar a Dilma que as digitais dele também estão impressas no troféu erguido por ela em 2010: “Pernambuco lhe recebe com a mesma atenção de sempre, com o respeito que lhe tributamos, desse Estado que lhe recebeu e lhe ajudou a ser presidente da República.”

 

Para não parecer ingrato, o governador reconheceu a ajuda de Brasília. Mas, nas entrelinhas, disse que Dilma poderia ter feito muito mais. “Quero agradecer desde já a parceria que temos. Muitas deles que vêm de anos, iniciadas com o grande brasileiro, que é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.” Quem observa a cena fica com a impressão de que, se a eleição presidencial não fosse em dois turnos, Dilma Rousseff talvez nem cumprimentasse Eduardo Campos.

 

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